As Pelejas de Baltazar nas Comunidades Quilombolas do RN

O projeto prevê levar para comunidades quilombolas de Rio Grande do Norte o espetáculo AS PELEJAS DE BALTAZAR, trabalho este realizado com bonecos de João Redondo (Patrimônio Imaterial do Brasil) e que tem como personagem principal BALTAZAR, boneco negro que traduz a importância da cultura negra nesta linguagem teatral. Sua inteligência, esperteza e coragem, fazem dele um exemplo muito positivo para crianças, jovens e adultos, já que sua classificação indicativa é livre. Além desta personagem, mais três personagens negras marcam importantes participações na narrativa do espetáculo: o Mestre dos Negros do Rosário, a Mestra da Jurema Sagrada e a Guardiã da Tradição Popular. Levar este espetáculo para as comunidades quilombolas é uma oportunidade ímpar de mostrar aos moradores destes territórios o importantíssimo papel desempenhado por personagens afro-brasileiros numa das mais importantes manifestações da cultura popular no Brasil. Além destas personagens acima citadas, outras que fazem parte da tradição desta manifestação também se fazem presentes, como Rosinha e o Capitão João Redondo. E destacamos também personagens que são conhecidas no folclore brasileiro: Papa-Figo, Mula sem Cabeça, Nego D’Água e Lobisomem. O desejo de levar AS PELEJAS DE BALTAZAR para comunidades quilombolas, nasceu da própria experiência da Trapiá Cia Teatral que já apresentou o espetáculo nas comunidades quilombolas Negros do Riacho (Currais Novos) e Boa Vista dos Negros (Parelhas) com uma excelente repercussão.

Segundo Gleydson de Castro Oliveira no artigo intitulado “O NEGRO NO TEATRO DE BONECOS: das tradições africanas ao Teatro Popular de Bonecos do Brasil” publicado em 2019 na Revista KWANISSA – Revista de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Maranhão, ao analisar os bonecos negros do Teatro Popular de Bonecos, concluiu que “a reprodução da imagem do ‘negro-herói’ resultou em umas das primeiras práticas artísticas de valorização da cultura e identidade negra no país”.

Baltazar é este “negro-herói” que luta para recuperar sua amada Rosinha das garras do Papa-Figo. Todas as personagens negras do espetáculo comprem papéis heroicos na trama e valorizam as tradições da cultura afro-brasileira. Daí a importância de apresentar o espetáculo em comunidades quilombolas que muitas vezes nem sabem desta fundamental importância dos negros do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste. Por isso, sempre serão realizadas rodas de conversa após as apresentações, o que faz com que todos aprendam com as trocas que se estabelecem nestes diálogos.

O projeto pretende chegar nas 35 comunidades quilombolas reconhecidas e certificadas pela Fundação Palmares, conforme consta no site da instituição. Segundo a Fundação, são consideradas comunidades quilombolas “os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.” E ainda afirma que “comunidade remanescente de quilombo é um conceito político-jurídico que tenta dar conta de uma realidade extremamente complexa e diversa, que implica na valorização de nossa memória e no reconhecimento da dívida histórica e presente que o Estado brasileiro tem com a população negra”.

O projeto ganha importância por juntar a cultura popular, o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste – o João Redondo do Rio Grande do Norte (Patrimônio Imaterial do Brasil), o folclore e suas lendas, os saberes ancestrais da cultura negra e afro-brasileira e isso tudo sendo realizado em comunidades quilombolas potiguares. A arte chegando em todos os espaços de forma gratuita e acessível.