1877

 
 
O espetáculo pretende levar para espaços alternativos e palcos as terríveis privações vividas pela população sertaneja em 1877, período de uma das maiores secas já experimentadas no sertão nordestino. A falta de políticas públicas e a ganância daqueles que possuíam as terras e dos bens alimentícios, agravaram a situação já calamitosa de ampla população de homens e mulheres que teimavam em não abandonar suas pequenas propriedades calcinadas pela seca prolongada.

Os retirantes que conseguiam chegar a algum lugar menos destruído pela miséria, continuavam na penúria por não conseguirem apoio institucional, agravando seu abandono e tirando dele toda a racionalidade e humanidade que ainda sobrava depois de perambular pela caatinga seca e desafiadora. Não é de se estranhar que canibalismos ocorreram neste período, como foi o caso de Donária dos Anjos que matou e comeu a menina Maria na cidade de Pombal/PB, tendo como justificativa para seu ato a fome avassaladora que sentia. Donária e Maria eram vítimas da seca e da miséria.

Os corpos dos sertanejos foram colocados a prova e sua sanidade mental era posta em xeque a cada amanhecer. Tempo de faltas e de angústias que marcaram de forma indelével a vida do sertão nordestino e de todo o Brasil.

Espaços de constante nomadismo onde se encontravam retirantes, cangaceiros, romeiros e toda a sorte de pessoas sempre em trânsito.

O texto foi construído a partir de diversas obras que trataram deste período e que seus autores conviveram com esta realidade. Podemos citar as obras “Os retirantes” de José do Patrocínio publicada em 1879 e o livro “A fome” de Rodolfo Teófilo publicado em 1890.

Realidades que precisam ser mostradas ao grande público para se discutir a falta de políticas para os mais pobres e também de medidas concretas que priorizem o convívio com a seca. Os mais pobres sempre são os mais penalizados em se tratando de tragédias, pandemias e descasos governamentais. Que a tragédia de 1877 nos sirva de lição. Os bons entendedores, entenderão.

 

FICHA TÉCNICA:

– Texto e Direção: Lourival Andrade
– Elenco: Alexandre Muniz, Emanuel Bonequeiro, Maria Alice, Monica Belotto e Pedro Andrade. 
– Cenário: Custódio Jacinto
– Figurino: Monica Belotto e Camila Muniz
– Iluminação: Adriano Nunes
– Execução de iluminação: Custódio Jacinto
– Maquiagem e visagismo: Bruno César
– Composições musicais: Carú Fernandes
– Composição das paisagens sonoras: Emanuel Bonequeiro
– Execução das paisagens sonoras: Coletivo Trapiá
– Preparação vocal: Heli Medeiros